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Bárbara Saavedra,
um elusivo e tenaz fogo-fátuo

por Claudia Andrade Ecchio

Ilustração: Jo Jiménez

LEITURA

O que é que anima e alimenta a chama das ciências em cada uma de nós, pergunta a bióloga e ecóloga Bárbara Saavedra em uma Conferência apresentada para a Sociedade de Biologia Celular em 2017. A metáfora utilizada em sua exposição é significativa para quem, como ela, fez de seu próprio quarto um espaço público: as mulheres na ciência são como fogos-fátuos, diz ela, uma pequena chama que arde sozinha em um território hostil e que corre, rente ao solo em forma de ziguezague, um caminho traçado à mão livre. Somos uma força nova, numerosa, criativa, apaixonada, preparada, afirma com convicção, e suas palavras lembram-me de todas essas meninas curiosas que jogam porquinhos, recolhem conchinhas na praia, armam herbários com as plantas do jardim ou memorizam as constelações que iluminam o céu noturno. Cada uma delas é uma mulher da ciência e essa fagulha minúscula, desobediente e inconstante, que as impulsiona a observar e pensar sobre o mundo que habitam, e pode converter-se em uma chama capaz de imaginar outros futuros possíveis.

 

A famosa frase ‘o pessoal é político’, atribuída à feminista norte-americana Carol Hanisch, me parece acertada para falar da trajetória profissional de Bárbara. Sua profunda convicção sobre o valor da biodiversidade para o bem-estar da humanidade marca sua própria rota, aquela que a levou a promover iniciativas de proteção das turfeiras patagônicas e a refletir sobre a urgência de incorporar na nova Carta Magna a intrínseca relação entre a natureza, direitos humanos e democracia. Escutá-la é conectar-se com sua paixão pela preservação dos mangues, pela restauração dos ecossistemas devastados pela ação humana e pela defesa de guanacos e huemules perseguidos por uma economia extrativista. Ler suas publicações é compreender que a visão ecológica não é uma moda, mas um imperativo, e que a urgência de seu discurso é coerente com uma escolha pessoal que busca gerar uma ação política concreta.

 

Esse entusiasmo pela construção de uma cultura da conservação, que permita colocar o Chile na vanguarda dos cuidados com a biodiversidade, faz dela uma pessoa que inspira muitas meninas e adolescentes a seguir carreiras científicas. Contar com referências femininas nas ciências, considerando a longa história de silenciamento ou de minimização de seu trabalho, é um tema que interessa à Bárbara: Há um gigantesco valor cada vez que uma mulher faz ciências. Um trabalho erudito desdobrado palmo a palmo por cada artesã de sua própria vida. E que, ao começar a compartilhá-lo, possa aproximar a matéria prima das ciências a outras como ela. Compartilho essa sinergia feminina e a revolução que implica abrir caminho no árido âmbito acadêmico e profissional. Essa imagem de colaboração e irmandade, implícita nos desejos de Bárbara, nos convida a ver como as mulheres da ciência, aparentemente ilhadas umas das outras, com suas próprias histórias de luta e sobrevivência, têm colaborado no tecido dessa rede que ilumina a rota de quem as precede e daquelas que virão.

 

Há onze anos Bárbara escreveu em seu blog que as mulheres das ciências fariam a diferença e mudariam a história como ela é conhecida hoje. Construiremos um futuro diferente, asseverou, que somente será possível se reconhecermos a interrelação vital entre seres humanos e a biodiversidade, a pedra fundamental sobre a qual se sustenta nosso sistema socioecológico nacional. Da sua trincheira pessoal e pública, Bárbara Saavedra nos convoca a todas nós, os fogos-fátuos inveterados e difíceis de apagar, a trabalhar, de forma sutil e com uma resistência tenaz, para essa mudança necessária que devemos realizar em mil e uma práticas humanas, transformando-as das atividades que destroem a base natural de nosso planeta, para práticas que nos permitam sustentá-la ao longo do tempo.

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Descubra mais mulheres chilenas que estão mudando o mundo.

Laura
Pérez

#H8menajes:

Laura Pérez

Doutora em astrofísica reconhecida em todo o mundo por seus descobrimentos e por abrir uma janela para o universo a partir dos céus chilenos.

Ilustração: Paloma Amaya – Paloma Ilustradora
Texto: Carolina Pareja - @frutillagram

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Loretxu
García

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Loretxu García

Mulher chilena que constrói o futuro com inovação, desenvolvendo projetos de arquitetura bioclimática e construção sustentável para melhorar a qualidade de vida.

Ilustração: Carola Josefa – @carolajosefa
Texto: Julieta Marchant - @julieta.marchant

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Mahani
Teave

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Mahani Teave

Pianista e concertista chilena, que levou a música e a cultura de Rapa Nui para todo o mundo, além de ensiná-las às novas gerações na escola que criou na ilha.

Ilustração: Trini Guzmán – @holaleon
Texto: María Paz Rodríguez - @soylarov

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Isabel
Allende

#H8menajes:

Isabel Allende

Mulher chilena cuja criatividade levou-a a converter-se na escritora mais popular no idioma espanhol e uma impulsionadora incansável dos direitos das mulheres.

Ilustração: Holly Jolley – @holly_jolley_
Texto: Teresa Paneque - @terepaneque

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Christiane
Endler

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Christiane Endler

Atleta chilena que com paixão, talento e um espírito único, abriu caminho no futebol para se tornar a melhor goleira mundo.

Ilustração: Amelia Strong
Texto: Constanza Michleson

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Bárbara
Saavedra

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Bárbara Saavedra

Ecóloga e bióloga chilena que protege ativamente a vida silvestre do Chile e do planeta para contribuir e criar um melhor futuro para todo o mundo.

Ilustração: Jo Jiménez – @jojimenez
Texto: Claudia Andrade - @claudianadradeecchio

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Fernanda
Fuentes

#H8menajes:

Fernanda Fuentes

Chef chilena vencedora de una estrela Michelin, que levou os sabores de nosso país ao redor do mundo e abre novas oportunidades a jovens e mulheres que compartilham sua paixão.

Ilustração: Camila Olivares – @camipepe_
Texto: Isabel Ossa - @isabelossaescritora

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Bernardita
Astaburuaga

#H8menajes:

Bernardita Astaburuaga

Chilena de espírito incansável, que junto a uma grande equipe, criou todo um mundo lúdico para que crianças do Chile e de outros países possam crescer brincando e aprendendo em família.

Ilustração: Consuelo Ovalle – @polerapaint
Texto: Antonella Andreani

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